BELMIRO BRAGA,
POETA QUE DEU NOME A SUA CIDADE
Nascido a 7 de janeiro de 1872, na Fazenda da Reserva, em Vargem Grande, depois Ibitiguaia (hoje, Belmiro Braga), município de Juiz de Fora, Belmiro Belarmino de Barros Braga é o poeta que desvela a vida da província, cuja aparência calma e tranquila encobre o fervilhar das ansiedades, das tramas ocultas, da necessidade de ultrapassar as montanhas e fazer ecoar, mundo afora, os sentimentos líricos, as observações satíricas e épicas, o sentido dramático do cotidiano rotineiro, monótono e incolor.
A fazenda da Reserva, onde nasceu, ficava “entre altos morros, nas abas da serra Criminosa“, conforme descreve o poeta em seu livro biográfico Dias idos e vividos.
Lá residiu com seus pais, o português bracarense José Ferreira Braga e a mineira de Rosário (município de Juiz de Fora) Francisca de Paula Braga, que mantinham, além do sítio, uma venda à beira da estrada. Quando trocou a escola pelo balcão da venda, afirmou com sabedoria:
– Todo moço, antes de matricular-se em qualquer escola superior, deveria passar, pelo menos um ano, por um balcão do interior. Ali, convivendo com o povo, aprenderia muita cousa que, na vida prática, ser-lhe-ia de grande utilidade. (Dias idos e vividos, p.46)
O tempo passou e a vida abriu-lhe o caminho da aventura: partiu em busca de novos horizontes e foi desbravar a terra mineira, Muriaé, Tombos, Carangola… Por essas paragens, sua vida é rica em peripécias: dorme em esteira dura, trabalha sem remuneração, mas vai conseguindo vencer com os versos e a letra caprichada, calígrafo dos livros de conta corrente de seu pai. Fez boas amizades e, em Carangola, no ano de 1891, a 7 de fevereiro, casa-se com a senhorita Ottília Portilho, com a qual teve três filhos, dois mortos na infância e o terceiro, José Epitácio, que herdou a verve satírica do pai, mas não deixou nada publicado.
Em 1895, volta a Juiz de Fora e em 15 de dezembro daquele ano começa a publicar no Correio de Minas a seção em versos “Bimbalhadas” (posteriormente, “Repiques”), sob o pseudônimo de Sá Cristão.
Buscando em todos os atos da vida um pretexto para rimar, costumava dirigir-se em versos aos fregueses. E foi através de um deles que conheceu o poeta cearense Antonio Salles, que o incentivou a publicar seu primeiro livro, impresso no Porto, em Portugal, em 1902, cujo título Montesinas foi dado pelo poeta amigo e padrinho.
Foi premiado pela primeira vez com o conto “A porteira”, no concurso da revista Lábaro, da Vila de São Manuel. Seu segundo prêmio mereceu-o também um conto “Violetas roxas”, concedido pela revista carioca Beija-Flor. Com a famosa trova:
As almas de muita gente
são como o rio profundo
– a face tão transparente
e quanto lodo no fundo!…
obteve o primeiro lugar no concurso de O Jornal do Rio de Janeiro, concorrendo com mais de mil outras. Seguiu pela vida colhendo louros, foi um dos fundadores da revista Marília, e também da Academia Mineira de Letras, o que muito o orgulhava.
Sua obra abrange todos os gêneros: poemas em verso, textos em prosa e textos dramáticos e foi traduzida em diversas línguas.
Belmiro, porém, permaneceu, em qualquer parte, o mineiro de sempre, desconfiado, irônico e sobretudo amante de sua terra e seus costumes. Em Berlim, ouvindo um concerto da Orquestra Filarmônica, escreve dizendo que a toda aquela disciplina e sabedoria prefere uma função
da banda do Sinfrônio de Faria
num domingo de festa em Juiz de Fora.
Seu ídolo literário foi Machado de Assis e orgulhava-se de ter sido ele o primeiro a lhe chamar de poeta numa carta datada de 1891. Teve muitos amigos importantes e outros nem tanto, porém aos que o desiludiram deixou a sátira contida no epigrama, inspirado por um belo cão que possuía e que se chamava Príncipe:
Pela estrada da vida subi morros
desci ladeiras… E afinal te digo:
– Se entre os amigos encontrei cachorros,
entre os cachorros encontrei-te, amigo!
Esses versos foram gravados ao pé de seu busto, no Parque Halfeld, em Juiz de Fora, homenagem póstuma prestada pela Prefeitura.
Deixou-nos, antes de falecer, no dia 31 de março de 1937, às 6 horas da tarde, em Juiz de Fora, além de sua rica e importante obra, seu testamento, em um soneto:
Morto, não quero o belengar de sinos,
enchendo de amargura o espaço imenso,
nem esses tristes, merencórios hinos
da charanga do bairro a que pertenço,
Cante-me o padre alguns textos latinos,
por entre nuvens de cheiroso incenso,
mas, desde já, previno: – pequeninos,
que os textos grandes, com prazer, dispenso
No cemitério, nada de discursos:
acautelem-se, ali, dessa estopada
os bons amigos dos amigos ursos;
pois, em casa, o orador, à sobremesa,
dirá, pensando em mim: – Não somos nada.
Lá se foi o Belmiro!… que limpeza!…
Parece essa limpeza, oitenta anos depois, estar sendo revista, na medida em que sua memória está sendo resgatada graças a seus conterrâneos que lhe estão homenageando e dando ao “Trovador de Vargem Grande”, como gostava de ser chamado, o valor real que sempre mereceu.
Leila Maria Fonseca Barbosa
(sobrinha-neta de Belmiro Braga)
2018